domingo, 15 de junho de 2008

Duas versões de uma mesma história.

Do lado de fora

Manhã de domingo. Pais saíram para a igreja com a irmã. Ela ficou para estudar.
Computador desligado, som ao lado, telefone quieto. Geometria espacial, prismas,
pirâmides, ao cubo, no cubo. xícara de chá, Nina Simone no som.
Em números, cálculos muitos, o telefone toca. Três vezes.
"Oi, Vó.", ela escreve enquanto escuta sem muita atenção.
"Seu pai tá aí, filha?"
"Tá não..."
"Pede pra ele ligar pra mim, viu? Seu avô tá piorando."
"Aviso, sim. Beijos, vó."
Desliga sem surpresa muita. Sete meses na UTI, avô pior já não assusta.
Cinco anos ou mais sem vê-lo. Lembranças poucas.
Telefone toca: é tio, é tia, é parente: e meu avô só piora.
Telefone toca: é tio, dizendo que o pior é apelido de coisa já feita.
"Avisa pro seu pai, querida?"
"Aviso, aviso...Mas como?"
"Fala que seu avô faleceu. Todo mundo já esperava."

Ela não.

Família chega em casa.

"Pai -cabisbaixa- meu tio Jorge ligou, tia Ana ligou, tia Alda ligou,
Vó ligou e todos disseram que meu avô não tá bem."

" Foi? Eles não queriam dizer que seu avô morreu, não?"

"Eles disseram. Eu que não quis dizer."

E o pai foi para São Sebastião para o enterro
do avô da menina, que ele não chamava de pai dele.
Choveu.

Um comentário:

Álvaro Andrade disse...

Êi, obrigado pela visita também. E que bom que gostou.

Pois é, sou da facom.
Se o vestibular analisasse blogs e eu fosse um avaliador, vc já estaria aprovada. :)

gostei mais desse texto que do outro.
e do poeminha da velhina q vira menina tb. literatura fantástica.

Bjo.